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Angelo da Cunha Pinto

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Professor Titular do Instituto de Química

Departamento: Química Orgânica

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0061106995455595 


Informações:

Professor Angelo da Cunha Pinto foi Docente Titular do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (tendo sido Diretor da nossa Unidade no período de 2000 a 2004), Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências desde 1997 e um dos maiores especialistas na área de Química de Produtos Naturais. Também participou por muitos anos da editoria do Journal of the Brazilian Chemical Society, além de ser editor da Revista Virtual de Química.

Graduou-se em Farmácia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1971), fez Mestrado em Química pelo Instituto Militar de Engenharia (1974) e Doutorado em Química pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1985).

Como pesquisador, logo teve interesse em estudar o desenvolvimento de novos métodos de síntese de substâncias heterocíclicas e o desenvolvimento de separação de substâncias orgânicas. Sua produção científica na Química de Produtos Naturais sobre a família das Velosiáceas e, no caso da síntese orgânica, sobre o núcleo de uma substância denominada isatina, fez com que ele e seu grupo de colaboradores do Laboratório de Produtos Naturais do IQ obtivessem liderança nacional e internacional.

Em 1992, Professor Angelo e seu grupo de pesquisa receberam o Prêmio Ambriex, da Sociedade de Farmácia e Química de São Paulo, com um estudo sobre a síntese de hormônios vegetais. As substâncias que deram origem a este hormônio eram naturais e foram isoladas da família das Velosiáceas.

Excepcional cientista, expoente em diversas áreas da Química, sobretudo na Química dos Produtos Naturais, atuou principalmente nos seguintes temas: croton cajucara, velloziaceae, isatin, trans-dehydrocrotonin e diterpenos. Pesquisador muito atuante dentro da comunidade química e um grande articulador da ciência nas agências de fomento, atuou em diversos cargos executivos, como por exemplo, presidente da Sociedade Brasileira de Química no biênio 1986-1988. Na sua militância pela SBQ, um dos grandes prazeres foi ter ocupado a editoria do Journal of the Brazilian Chemical Society, período em que o periódico passou ter reconhecimento nacional e internacional e ter se tornado um dos principais periódicos da América Latina, e ser um dos mentores da criação da Revista Virtual de Química.

Em colaboração com muitos colegas e alunos produziu uma longa série de trabalhos sobre síntese orgânica e produtos naturais. Foram 328 artigos científicos, 7 capítulos de livros e 6 patentes. Em termos de formação de recursos humanos, orientou 49 mestres e 34 doutores.

Seu trabalho e militância pela ciência brasileira foram reconhecidos através de inúmeros prêmios e distinções, como a Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico – Presidência da República do Brasil – 1998, Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico – presidência da República do Brasil – 2004, Químico do Ano e Retorta de Ouro – Sindicato dos Químicos e dos Engenheiros Químicos do Rio de Janeiro – 1995, Químico do Ano, Conselho Regional de Química do Rio de Janeiro – 1995, Medalha Simão Mathias da SBQ – 1997, Prêmio Rheimboldt-Hauptmann/Rhodia – 1997, Medalha Paulo Carneiro, UNESCO-Academia Brasileira de Ciências e Academia Brasileira de Letras – 2001, Diploma de Amigo do Instituto Militar de Engenharia – 2007, homenagem nos 30 anos da SBQ – 2007, dentre muitas outras distinções acadêmicas recebidas.

Um mês antes do seu falecimento, ocorrido na manhã do dia 07 de outubro de 2015, no município de Niterói – RJ, o Professor Angelo da Cunha Pinto foi entrevistado pela Revista Rio Pesquisa FAPERJ n° 32 – setembro de 2015, cuja matéria, elaborada  por Alda de Almeida, encontra-se abaixo transcrita:

Uma vida dedicada à Química

Nascido em Portugal, o químico Angelo da Cunha Pinto escolheu o Rio para viver, construindo uma carreira que virou referência na área.

Uma vida dedicada à química. A frase resume a trajetória do pesquisador Angelo da Cunha Pinto, 66 anos, professor titular do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e cientista reconhecido quando o assunto é a busca por produtos naturais utilizados como fármacos. Não seria exatamente uma surpresa se entre os medicamentos que você ingere ou já ingeriu, haja alguma substância descoberta em pesquisa em que o nome de Angelo aparece associado. Em uma conversa enriquecedora no apartamento em que mora, em Niterói, emoldurada pela vista da Baía de Guanabara e decorada por uma linda coleção de quadros, o professor conta que a pesquisa de fármacos tem sido a obra de toda a vida. A paixão pela química começou ainda criança, fazendo experiências simples em casa. O resultado foi o reconhecimento da comunidade científica e uma coleção de prêmios. Outro motivo de orgulho são os três  filhos, Manuel, Mariana e Alice, e os netos, Maria Carolina e Luca. 

Formado em Farmácia e especialista em produtos naturais, Angelo tem se dedicado, por décadas, à pesquisa por novas substâncias que possam transformar-se em medicamentos. “”Foi o mais perto que consegui chegar da Medicina já que não gosto de ver sangue”.” A mãe sonhava em ter um filho médico e sempre foi incentivadora de seus estudos, mas ficou feliz do mesmo jeito com a opção pela Farmácia. ““Fui o primeiro da família a ter um diploma de curso superior””, conta, acrescentando que o irmão Carlos Alberto, hoje com 64 anos, gostava da parte técnica e, desde criança, montava e desmontava os brinquedos que ganhavam. O pai, Alberto Pinto, faleceu em 1985, e a mãe, Adelaide da Cunha, de 89 anos, vive em Marco de Canaveses, situada na parte norte de Portugal, local de nascimento de Angelo.

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O pesquisador costumava visitar sua cidade natal de dois em dois anos, antes de  ficar doente e iniciar o tratamento de um câncer, o que o impediu de viajar em 2014 e também este ano. Ao falar sobre a cidade de 50 mil habitantes, próxima a Amarante e banhada pelo Rio Tâmega, em uma das regiões mais bonitas de Portugal, o professor se derrete: “”É uma paisagem muito bonita e um local cheio de ruínas medievais e outras tantas ainda do tempo da colonização romana””. Ele lamenta que muitos dos sítios arqueológicos estejam inexplorados pelo baixo número de arqueólogos em Portugal.

Além das visitas familiares, as idas regulares a Portugal incluem ainda a Universidade de Aveiro, cidade também próxima ao Porto, onde acompanha o desenvolvimento de pesquisas feitas em parceria com a UFRJ, no âmbito programa Ciência sem Fronteiras. O pesquisador diz que a equipe é especializada em porfirinas, moléculas encontradas nos pigmentos da clorofila dos vegetais e na hemoglobina dos animais. Seu parceiro em Aveiro, o professor José Cavaleiro, é uma das principais autoridades mundiais em por porfirinas.

A experimentação como base do ensino da Química tem acompanhado a carreira do pesquisador, iniciada no mestrado do Instituto Militar de Engenharia (IME), em 1971. Angelo comenta que, mesmo nos anos de chumbo, respirava-se uma certa liberdade no IME: “”O conflito era mais nosso, jovens inconformados com a situação do País. Eu havia sido preso no segundo ano da faculdade, por participar do Diretório Acadêmico, e estava preocupado com isso, mas deu tudo certo, incluindo a bolsa para fazer o mestrado””, recorda.

O mestrado, concluído em 1974, abriu caminho para o convite de trabalho no Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais da UFRJ, uma parceria da universidade com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCTI). Posteriormente, tornou-se professor do Instituto de Química, sempre na área de produtos naturais. Após concluir o doutorado em Química Orgânica na UFRJ, em 1985, ingressou, ali mesmo, como docente da Pós-graduação. Mais tarde, ocupou os cargos de diretor-adjunto da Pós-graduação e, posteriormente, de diretor do Instituto de Química.

Os problemas recentes de saúde o afastaram da sala de aula. ”Não tenho carteira de motorista nem celular”. Mas o professor Angelo faz questão de manter as atividades de pesquisa e a orientação dos alunos doutorandos, tanto da UFRJ como do IME. ““Recebo alunos em casa quase todos os dias para a orientação das teses””, comenta o professor, que não pensa em se aposentar. ““Sou contra a aposentadoria compulsória aos 70 anos. Espero que o Congresso aprove a nova legislação que muda a idade para 75 anos””, diz.

Entre os livros e o futebol de rua

Depois do nascimento na pequena Marco de Canaveses, a cerca de 50 quilômetros da cidade do Porto, Angelo chegou ao Rio de Janeiro em 1951, com dois anos de idade. A infância foi passada em uma casa no bairro do Fonseca, em Niterói, dividindo seu tempo entre as peladas na rua, os livros e o trabalho no comércio do pai. O gosto pela Ciência surgiu nessa época, brincando com kits de química vendidos em bancas de jornal. O professor afirma que experimentar é fundamental para o aprendizado e planeja criar uma coleção infantil de conjuntos para produzir experiências em casa. “”Ver as reações químicas e as transformações acontecendo estimula o interesse””, ensina.

Os pais, comerciantes, decidiram voltar para Portugal antes mesmo de Angelo ingressar na faculdade. Ele, por sua vez, escolheu permanecer no Rio, morando em Botafogo, enquanto se preparava para prestar o vestibular. “Passei em quinto lugar”, conta, orgulhoso. Nos concursos que prestou,  ficou quase sempre entre os primeiros colocados. Outro motivo que o impediu de voltar ao país de origem foi a guerra colonial. Na época, o serviço militar do regime salazarista durava dois anos: “”Se eu voltasse, teria que servir certamente em Angola ou Moçambique, na África, colocando por terra os sonhos de fazer curso superior””. Entre a guerra e a química, o Brasil ganhou um “pesquisador pacifista”.

O professor atribui o reconhecimento como pesquisador à dedicação integral à química ao longo de toda a carreira. ““Desde que entrei como professor na universidade, há cerca de 40 anos, não houve um dia em que não tivesse lido ou escrito algo sobre química. “Viajava bastante, mas estava sempre com papel e lápis à mão para fazer anotações”.” Angelo explica que essa trajetória acadêmica fez que não desenvolvesse habilidades em outras áreas. “”Em casa, por exemplo, não sei fazer nada nem mesmo trocar uma lâmpada. É a Maria, minha esposa, quem cuida dessas coisas”’, comenta entre risos.

Os frutos de todo esse empenho estão presentes no grande volume de trabalhos publicados, cerca de 300, na indicação à presidência da Sociedade Brasileira de Química, em 1986, e nos prêmios como Químico do Ano e Retorta de Ouro, em 1995, do Sindicato dos Químicos e dos Engenheiros Químicos. Além disso, recebeu do governo brasileiro a comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 1998, e a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 2004. Em 1997, passou a integrar, como membro titular, a Academia Brasileira de Ciências (ABC).

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A paixão pela química levou-o também ao interesse pela disciplina no ensino médio. Foi um dos incentivadores da implantação de laboratórios na rede estadual, os dois primeiros instalados no Colégio José Veríssimo, em Magé, e no colégio Mario Quintana, em Nilópolis, ambos na Baixada Fluminense. Os planos atuais incluem a criação de laboratórios também em escolas estaduais de Niterói, cidade onde voltou a morar há 10 anos, depois de uma longa temporada no Rio e de muitas viagens de estudo ao exterior, além da coleta de plantas na Região Norte do Brasil, nos estados do Amapá, Rondônia e Amazonas.

Por intermédio da pesquisadora Danuza L. Menezes, do Instituto de Botânica da Universidade de São Paulo (USP), Angelo conheceu e passou a cultivar a amizade do paisagista Roberto Burle Marx, com quem realizou várias viagens: “”Ele coletava plantas para usar em seus projetos de jardins e eu para levar ao laboratório e testar sua atividade biológica e a possibilidade de se transformarem em novos fármacos.””

A mudança para Niterói foi uma decisão familiar. Angelo conta que, quando nasceu a filha mais nova, Alice, ele morava no Rio, e a mulher, a química e pesquisadora Maria Domingues Vargas, em Campinas (SP), lecionando na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “”A situação ficou bem difícil. Estava muito cansativo viajar toda a semana a Campinas para vê-las. Então, decidimos que seria mais fácil Maria tentar trabalho aqui no Rio, pois eu já era professor titular da UFRJ. Ela fez concurso para professora titular de Química da Universidade Federal Fluminense (UFF), passou e nos pareceu mais lógico morarmos na cidade onde ela trabalha””, explica.

Em meio à conversa sobre pesquisas, plantas, livros e orientações, Angelo comenta animadamente a conquista de mais um título: o de avô de Luca. O menino nasceu na Austrália, onde mora a  filha Mariana Mayer Pinto, 37 anos, bióloga marinha, pesquisadora da Universidade de Sidney.

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O professor da UFRJ confirma a forte ligação entre a atividade da filha e suas próprias experiências: “”Hoje, a pesquisa de novos fármacos está mais voltada para os organismos marinhos do que para a flora. Tenho vários trabalhos nessa área, já que os organismos marinhos possuem o mesmo metabolismo das plantas””, comenta. Ele lamenta que o número de pesquisadores em atividade no Brasil seja baixo, quando comparado ao tamanho e às possibilidades do litoral brasileiro. O químico ressalta que a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), com um núcleo de pesquisas na Ilha Grande, na Costa Verde, é hoje o principal centro de estudos dessa área no Rio de Janeiro, embora existam alguns pesquisadores também na UFRJ e na UFF.

O filho mais velho, Manuel, 40, não enveredou pelo caminho da Ciência. É professor de Educação Física e fisioterapeuta, área próxima à Medicina, e atleta especializado em corridas de longa distância que exigem resistência física. E a filha mais nova, Alice, vai ser médica e realizar o sonho da avó?

O professor responde que não. Alice, 13 anos, trocou o interesse pela Ciência dos pais pela Língua Portuguesa. “”Ela quer ser jornalista”, afirma o pai, autor de vários livros, colunista da revista Ciência Hoje e ex-editor do Journal of the Brazilian Chemical Society. Os planos para o futuro imediato incluem escrever um novo livro sobre histórias de plantas. O convite foi feito pela editora da UFRJ e aceito pelo pesquisador.”

Matéria de Alda de Almeida, extraída da Revista Rio Pesquisa FAPERJ n° 32 – setembro de 2015,  que pode ser acessada pelo link: www.faperj.br/downloads/revista/rio_pesquisa_32_2015.pdf